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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Gestão do Conhecimento


A Gestão do Conhecimento é uma forma de fazer circular saberes. Na atualidade, é chamada assim a diciplina e o sistema adotado por organizações e empresas que reconhecem a importância desta forma de transmissão também como uma fonte de lucro.

Na África tradicional a "gestão do Conhecimento" é uma prática ancestral,

O fato de não possuir uma escrita não priva a África de ter um passado e um conhecimento. Como dizia meu mestre, Tierno Bokar: "A escrita é uma coisa e o saber é outra. A escrita é a fotografia do saber, mas ela não é o saber em si. O saber é uma luz que está no homem. É a herança de tudo o que nossos ancestrais puderam conhecer e que nos transmitiram em germe, exatamente como o baobá, que já está contido em potência em sua semente".


Nós que trazemos temos consciência dos saberes oriundos da África trazemos em nossa prática cotidiana ainda que muito ocidental e tecnológica "Uma certa dimensão humana, que a civilização tecnológica moderna está prestes a fazer desaparecer". Isto é, tratamos de usar recursos "modernos" e "tecnológicos" na preservação daquilo que a "modernidade" e a "tecnologia" estão destruindo, os saberes tradicionais, a transmissão oral, a história viva.

O texto sobre A educação tradicional na África, de Amadou Hampâté Bâ, que postamos nesta entrada do blog, foi originalmente editado em francês como capítulo do livro Aspects de la Civilization Africaine, Paris, ed. Présence Africaine, 1972 e publicado em português na revista THOT n. 64, 1997 com tradução de Daniela Moreau. A leitura é recomendada para uma compreenção africana do fenômeno da comunicação "moderna":


O conhecimento africano é um conhecimento global, um conhecimento vivo. É por isso que os anciãos, os últimos depositários desse conhecimento, podem ser comparados a vastas bibliotecas, das quais as múltiplas prateleiras estão ligadas entre si por relações invisíveis que constituem precisamente esta "ciência do invisível", autenticada pelas correntes de transmissão iniciática.
Outrora, este conhecimento era transmitido regularmente de geração em geração, mediante ritos de iniciação e pelas diferentes formas de educação tradicional. Esta transmissão regular foi interrompida devido a uma ação exterior, extra-africana: o impacto da colonização. Esta, chegando com sua superioridade tecnológica, com seus métodos e seu ideal de vida próprios, fez de tudo para impor seu próprio jeito de viver àquele dos africanos. Como jamais se semeia em terras não preparadas, as potências coloniais foram obrigadas a "roçar" a tradição africana para poder plantar sua própria tradição.
A escola ocidental começou, portanto, com­batendo a escola tradicional africana e perseguindo os detentores do conhecimento tradi­cional. Foi a época em que todos os curandei­ros foram jogados nas prisões como "charlatões" ou por "exercício ilegal da medicina"... Foi também a época na qual se impedia às crianças de falar sua língua materna, com o propósito de afastá-Ias das influências tradicionais. Isso chegou a tal ponto que, na escola, a criança que fosse surpreendida falando sua língua materna recebia pendurado no pescoço um quadro chamado "símbolo", no qual estava desenhada uma cabeça de burro, e ficava privada do almoço...
Os grãos desta nova tradição, uma vez semeados, cresceram e deram frutos. É por isso que a jovem África, nascida da escola ocidental, tem tendência a viver e a pensar de modo europeu, pelo que não podemos repreendê-Ia, pois é apenas o que ela conhece. O aluno vive sem­pre de acordo com as regras de sua escola.
Na época colonial, a transmissão iniciática, que se fazia outrora às claras e de uma maneira regular, teve que refugiar-se numa espécie de clandestinidade. Pouco a pouco, o afastamento das crianças de suas famílias fez com que os anciãos não encontrassem mais à sua volta jovens suscetíveis de receber os ensinamentos. A iniciação saiu das cidades para refugiar-se no campo. Mas o golpe de misericórdia lhe foi dado por ocasião da independência, com a base de idéias e ideologias exclusivamente européias.
Enquanto o colonialismo, com efeito, suscitava reservas e penetrava pouco no campo, estas mesmas idéias européias, veiculadas por partidos políticos modernos, mob ilizaram massas até o mais recôndito vilarejo, de tal maneira que a transmissão quase não encontra mais terreno onde possa ser exercida.
Numa época em que diversos países do mundo, por intermédio da Unesco, consagram recursos financeiros e esforços materiais para salvar os grandes monumentos históricos ameaçados, não seria ainda mais urgente salvar o prodigioso capital de conhecimentos e de cultura humana acumulado, ao longo de milênios, nesses frágeis monumentos que são os homens, e do qual os últimos depositários estão desaparecendo?
Em nossos dias, devido à ruptura na transmissão tradicional, quando um desses sábios anciãos desaparece, são todos os seus conhecimentos que são devorados com ele pela noite. Eu não desejo isso nem para a África, nem para a humanidade. ...



Fonte: Casa das Áfricas

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