Conto com Você!

Aqui vai um conto fresquinho, recém saido de uma idéia que surgiu do Coco de Zé Neguinho: "Pau de Quiri". O conto fictício traz a memória de Mestre Salu,ressalta valores da Cultura Africana, a valorização da comunidade, a ancestralidade, a simplicidade dos aprendizados, a oralidade, a sabedoria dos mais velhos contraposta aos revézes modernidade. Ainda, destacam-se a simbologia do Caju em Pernambuco,as tradições, a arte e o Coco.

Educadores e Educadoras: o conto pode ser usado livremente desde que sem fins comerciais-lucrativos e desde que citada a autoria de Fabiana Côrtes Carvalho.
Veja nos links a música e a letra do Coco de Zé Neguinho. Este é o momento perfeito para apresentar o Coco como manifestação cultural, trazendo a musicalidade e a ludicidade da Roda de Coco pra sala de aula!

Na hora de contar o conto, busque interagir com os ouvintes e trazer elementos visuais! Se quiser saber mais, veja o post deste blog que trata da Contação de Histórias Afrobrasileiras!

Boa Leitura!

"Salve Seu Salu!"

Na comunidade do Caju, todo mundo conhecia Seu Salu. Ele era o mais velho do lugar e era uma pessoa que estava sempre disposta a ajudar. Tinha ajudado a construir as casas, a Igreja e até a Escola da comunidade, por isso povo todo, seja qual fosse a idade saudava: “Salve Seu Salu!”

Mas Seu Salu não era construtor de profissão. É que antigamente todos ajudavam na construção, as pessoas se juntavam no chamado “mutirão”. Então, quando uma obra acabava, todo povo se alegrava e naquela comunidade festeira todo dia era dia da Cumiera!

Quando a eletricidade ainda não tinha chegado á comunidade, era a vela que iluminava enquanto o povo tocava e dançava a noite toda na roda de Coco e Ciranda. E todos eram muito gratos a Seu Salu, porque só ele dava o melhor trato á madeira usada. Ele entendia de Macaíba, Jacarandá, Embaúba, … e sua atividade principal era fabricar intrumento musical. Seu Salu fazia tambor de todo tipo (alfaia, caixa, zabumba), fazia berimbau, pandeiro, caxixi, e além disso, a Rabeca que ele tanto gostava que até tocava.

Quando pegava encomenda de um instrumento com alguém, Seu Salu ensinava muitas coisas também. Ele dizia pra quem tinha pressa que cada coisa e cada pessoa tem seu tempo e sua história e e assim acontece com o instrumento musical feito de forma artessanal. É que Seu Salu usava os métodos tradicionais, do modo que ele tinha aprendido com seus pais.

No quintal da casa dele, em vez de uma picina ele tinha uma oficina cheia de instrumentos de metal. Eram machados, muito afiados, que todo dia tinham que ser amolados com muito cuidado. Isso é porque cada machado servia pra um tipo de madeira que no seu devido momento viraria um instrumento. Por causa desses conhecimentos e habilidades, Seu Salu também erachamado de Mestre na Comunidade.

Mas o tempo passou e a eletricidade chegou. Derrepente a vida mudou, as pessoas agoram tinha muita pressa e ja não queriam saber de conversa. Com a tal da televisão, ninguém mais queria ajudar na construção. Acabou-se a festa da Cumiera e a as Rodas de Coco da sexta-feira. Já não se ouvia mais o som bonito da madeira e a oficina de Seu Salu foi ficando cheia de poeira.

Foi então que numa noite de muito vento derrepente aconteceu um acidente, só se ouviu um forte trovão e em seguida faltou luz em toda região! Depois de mais de 1 semana naquela situação, ninguém sabia o que fazer pra dar jeito no apagão. Então, o povo da Comuniade do Caju acudiu a Mestre Salu.

Mestre Salu, abandonado e abatido, tinha sido esquecido desde que a eletricidade tinha aparecido. Há tempos já havia parado de trabalhar a madeira mas mesmo com bastante idade ainda podia ensinar quem quisesse tentar consertar a a comunidade. Respondendo ao apelo da população, Mestre Salu cantou esta canção:

“Machadeiro amola o machado pra cortar o pau de Quiri...”